(Foto: Vitoria TV)
Em uma rotina agitada e com muitas tarefas a ser cumpridas, como acontece com a maioria das pessoas, o sono costuma ser o grande sacrificado. O descanso muitas vezes é deixado de lado, mas passar horas preciosas na cama pode trazer inúmeros benefícios para a saúde e até dificultar o surgimento de doenças relacionadas a demências, como o Alzheimer.
Em entrevista ao R7, o médico especialista em medicina do sono Nonato Rodrigues afirmou que o recém-descoberto sistema glinfático funciona com maior potência enquanto estamos dormindo, ajudando a levar o “lixo” presente no cérebro e contribuindo na prevenção de doenças.“Na nossa casa temos que jogar o lixo fora. [...] Todo mundo produz lixo, e o cérebro também. Para retirar esse lixo, é preciso lavar o cérebro, e essa lavagem é feita com um líquido especial através do sistema glinfático. Inclusive, estudos mostram que ele funciona melhor quando estamos dormindo de lado”, conta Rodrigues.
Dessa forma, as pessoas que possuem um sono de maior qualidade, sem interrupções ou com interrupções de curta duração, são menos propensas a desenvolver demências quando mais velhas.
O especialista também ressaltou a importância de construir uma rotina de sono para ajudar o corpo a saber quando é o momento certo para realizar determinadas funções. A falta de padrão comportamental para dormir pode causar, inclusive, o aumento do risco de desenvolvimento de cânceres.“As pessoas que trabalham à noite, em regime de plantão, apresentam maior probabilidade de ter câncer do que as pessoas que trabalham de dia. Simplesmente porque nossas células têm dentro delas um relógio. As células se reproduzem à noite e cessam a reprodução durante o dia, ou vice-versa. Quando esse relógio está desacertado, elas não sabem quando precisam parar de se reproduzir.
”Sonho é parte essencial da saúde mental
Segundo Rodrigues, o sonho é como a válvula de uma panela de pressão, permitindo que o ser humano processe emoções e lide com sentimentos anteriores durante o sono.
“O sonho funciona como uma válvula de escape psicológica para tensões, para situações de angústia e de estresse, de forma que essa sensação não nos sufoque, não nos paralise, não nos tire a capacidade de raciocinar e tomar as atitudes que convenham. É como a válvula da panela de pressão.”
O especialista compara o sonho a um jogo de videogame, no qual o cérebro cria uma situação hipotética para aprendermos a lidar com experiências do mundo real.
Outro aspecto importante do sonho é eliminar as ligações entre sinapses desnecessárias adquiridas durante o dia. Caso contrário, assim como em um computador com muitos programas abertos, a capacidade de processamento do cérebro ficaria comprometida com o excesso de informações dispensáveis.
A fase do sono REM — o sono mais profundo, quando os sonhos são mais vívidos — é responsável por eliminar essas sinapses indesejadas, economizando energia e preparando o cérebro para viver novas experiências no dia seguinte. Esse processo é realizado todas as noites e costuma durar apenas 25% do sono.
Músculos se regeneram durante o sono
Existem dois grandes aliados da recuperação muscular. O primeiro e mais conhecido é a proteína, presente em alimentos como carne vermelha e grão de bico, além dos suplementos alimentares ingeridos por pessoas que frequentam academias.
O segundo bom companheiro da regeneração dos músculos é o sono, que ajuda a recuperar as microlesões causadas no dia a dia ou durante atividades físicas intensas, como a musculação.
Rodrigues alerta para a importância da boa qualidade do sono para que o ciclo de regeneração muscular ocorra de maneira otimizada, ou seja, com maior eficácia.
“O nosso sistema muscular é autorregenerativo. Quando você faz atividade física, você perde o músculo, e esse músculo precisa ser regenerado. Essa regeneração é feita durante o sono”, conta o médico. Ele também destaca que “a falta de condicionamento muscular faz com que a perda do músculo seja mais rápida”.
Tempo ideal de sono pode variar entre pessoas
De acordo com Rodrigues, não existe um tempo de sono ideal. Essa característica é única para cada ser humano e é chamada de cronotipo — distribuição dos horários de sono, sendo eles mais longos ou curtos.
“Algumas pessoas são criadas para dormir oito horas, enquanto outras precisam de seis horas e algumas, dez horas. Essa característica nós chamamos de cronotipo”, explica Rodrigues. “Quem dorme mais tem inclusive a tendência de dormir mais tarde e acordar mais tarde, enquanto quem dorme menos tem a tendência de dormir mais cedo e acordar mais cedo.”