(Foto: Divulgação)
Três homens e uma mulher foram presos suspeitos de dar golpes na venda de ágios de carros e mudar de voz para falar com cada vítima, em Aparecida de Goiânia e Senador Canedo, na Região Metropolitana da capital. Em um áudio enviado aos comparsas, um deles relata que a vida dele “não é fácil” por ter de mudar de voz para aplicar os golpes (ouça acima).
“Cada telefone é um código, cada telefone é uma voz. Eu tenho que ler ele atrás, lembrar que voz que é para depois atender a pessoa. Vocês acham que minha vida é fácil? É corrido”, disse o suspeito.
Como os nomes dos suspeitos não foram divulgados, o g1 não conseguiu localizar a defesa deles para que se posicionasse.
O resultado da operação foi apresentado na manhã desta terça-feira (21). De acordo com a Polícia Civil, o grupo causou um prejuízo de mais de R$ 500 mil. A corporação divulgou ainda uma gravação onde um dos criminosos tenta aplicar o golpe em uma das 30 vítimas identificadas durante a investigação.
Suspeito: “Se você não quiser, não tem problema não. O telefone da empresa é esse aí, você pode ligar que a gente dá referência. Meu compadre mora no Setor Urias, ele é militar do Bope. Você pode ligar que ele me avaliza. Aí, você que sabe moço”.
A vítima desconfia: “Pois é, seu Jair, o senhor vai me desculpando aí, assim, porque a gente vive num mundo. O senhor sabe como é que são as coisas. Eu vou passar para o senhor um dinheiro que não tem garantia. É complicado. A gente fica com medo. Infelizmente esse mundo é assim mesmo”.
O suspeito responde tentando contornar a situação: “Eu também me coloco no seu lugar, eu sei que hoje em dia o mundo que a gente vive é difícil, mas a gente acha gente honesta”, finalizou.
O delegado Marco Aurélio Euzébio, responsável pelas investigações, destacou o quanto eles tinham habilidades para aplicar os golpes.
“A boa lábia do criminoso. Ele conseguia criar uma narrativa gerando credibilidade, fazendo com que a vítima cresse que realmente tratava-se de uma história verídica. Inclusive, ele criava uma empresa fictícia falando que não teria como mostrar o veiculo porque estava trabalhando”, disse o delegado.
A Polícia Civil acredita que tenha outras pessoas lesadas que ainda não realizaram denúncias.
Entenda como era o golpe
O delegado disse que o grupo atuava aplicando golpes na venda do ágio de veículos desde o ano de 2019. De acordo com a corporação, os suspeitos anunciavam os veículos em jornais de grande circulação no estado, aplicativos de vendas e redes sociais oferecendo parcelas e financiamentos reduzidos. Conforme a polícia, os veículos não existiam.
Ao ver o anúncio chamativo, a vítima entrava em contato com o número informado, o anunciante se identificava como militar do Corpo de Bombeiros e dizia que já havia vendido seu veículo. No entanto, ele indicava um familiar, que era pastor, e teria um carro com condições semelhantes.
Quatro pessoas são presas suspeitas de aplicar golpe do 'ágio premiado', em Goiânia
A vítima então entrava em contato com a pessoa indicada, a qual relatava que estaria fechando a venda para um garageiro. A vítima demonstrava interesse, momento em que, segundo o delegado, o golpe era aplicado.
“A vítima entrava em contato com esse pastor, na verdade, durante as investigações nós comprovamos que é a mesma pessoa. Ela até se gaba de fazer várias vozes. Em contato com esse pastor, ele ludibriava as vítimas e conseguia tirar dinheiro delas”, disse .
Segundo a polícia, o golpista inventava uma história de que precisava resolver, ainda naquele dia, uma pendência judicial com sua ex-mulher e que se a vítima lhe transferisse o valor que precisava com urgência, seguraria o veículo para ela como sinal do negócio.
Prisões
A corporação informou ainda que o suspeito que mudava de voz já tinha sido preso em 2014, em Goiânia, pelo mesmo crime, mas foi solto sete meses depois. Todos os detidos vão responder pelo crime de estelionato e associação criminosa.
Além disso, a polícia informou que mais de 20 pessoas foram identificadas por venderem ou emprestarem seus cartões bancários para os estelionatários e também responderão pelo crime.
“Pessoas que venderam suas contas bancárias para os criminosos e as vítimas depositavam os valores. Pessoas que faziam a cotação desses terceiros. Eles anunciavam em grupos de mensagem que estavam comprando essas contas”, disse o delegado.
Vários cartões, celulares, chips telefônicos e dinheiro foram apreendidos com os suspeitos durante a operação intitulada como “Ágio Premiado”.
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