(Foto: Arquivo pessoal)
Vídeo mostra série de tapas e socos a advogado que estava algemado e no chão.
O advogado Orcélio Ferreira Silvério Júnior, de 32 anos, que foi agredido em uma calçada de Goiânia, contou que está mais aliviado após a prisão de um dos acusados de torturá-lo. Um vídeo mostra quando, mesmo algemado e no chão, leva tapas, socos e tem o pescoço pressionado entre as pernas do policial (veja acima).
“Me sinto aliviado com essa decisão. Meu coração está mais alegre sabendo que os acusados estão sendo responsabilizados. É um alívio para mim e para minha família saber dessa posição do Poder Judiciário”, disse o advogado.
Ele considera ainda que a punição pode garantir que a conduta de policiais não seja desviada do Procedimento Operacional Padrão.
“Espero a punição exemplar a fim de que esses atos sejam coibidos. Esse tipo de punição que o Poder Judiciário tem tomado coibirá novas atitudes por parte de qualquer suposta autoridade, seja em face de advogado ou cidadão”, completou.
O tenente Gilberto Borges da Costa foi preso na quarta-feira (22). Ele está no Presídio Militar. Outros quatro policiais respondem em liberdade pelo crime de tortura: o cabo Robert Wagner Gonçalves de Menezes, soldado Ildefonso Malvino Filho, soldado Diogenys Debran Siqueira Silva e soldado Wisley Liberal Campos.
O g1 tenta contato com a assessoria da Polícia Militar desde as 15h de quarta-feira, mas os e-mails não foram respondidos. A reportagem não conseguiu o contato da defesa dos réus até a última atualização desta reportagem.
Ordem de prisão
Em sua decisão, a juíza Bianca Melo Cintra aponta que o pedido de prisão contra o tenente se deu após testemunhas relatarem que estão “extremamente atemorizadas com a situação que presenciaram”. Além de constar nas investigações informações de que "pessoas andaram rondando a região em que ocorreram os fatos e a casa de parentes da vítima".
Consta ainda que o tenente declarou em depoimento que a “prática daquele tipo de conduta é sua forma reagir às provocações feitas contra sua pessoa”. O que, segundo a Justiça, convalida os fatos apurados durante as investigações, de que a abordagem policial inicial se deu em razão de questões pessoais enfrentadas pelo acusado anteriormente, e não pelo fato de flanelinhas - como são chamados
os vigilantes irregulares de veículos - estarem fazendo cobrança de motoristas na região.
A Justiça chegou à conclusão de que o acusado “faz uso da farda para impor de forma deturpada sua vontade, o que é inadmissível como agente estatal no uso de suas funções públicas”. Além de destoar completamente do estabelecido no Procedimento Operacional Padrão (POP).
Violência
O advogado foi agredido pelos policiais no dia 21 de julho (veja o vídeo acima). Ele levou os socos na frente do pai. Orcélio Ferreira Silvério disse que o filho chegou a desmaiar por três vezes.
"Estou me sentindo um homem morto, porque um pai vê um filho ser espancado e não pode fazer nada. Um homem de 62 anos que toma remédio controlado. Eu fiz três pontes de safena há três anos. É muito revoltante", lamentou Silvério.
De acordo com o boletim de ocorrências, os policias estavam fazendo uma abordagem a um flanelinha que estava coagindo pessoas a pagar pelo estacionamento. O advogado disse que foi tentar conter a ação truculenta.
Segundo o promotor de Justiça Luís Antônio Ribeiro Júnior, após apanhar na rua, o advogado ainda apanhou depois de passar pelo exame no Instituto Médico Legal.
“Quando ele chega na Central de Flagrantes, ele apresenta algumas lesões. Quando ele sai da Central de Flagrantes, nós constatamos a presença de duas novas lesões, o que comprova que lá ele também foi submetido a intenso sofrimento físico”, disse.
A Ordem dos Advogados do Brasil disse que continua acompanhando o caso. “Um dos efeitos penais da condenação pelo crime de tortura é a perda do cargo, da função. E a OAB Goiás atuará de forma firme nesse sentido”, disse o advogado Alexandre Pimentel, representante da OAB.