(Foto: Vitoria TV)
A Justiça de Goiás decretou a prisão preventiva de sete policiais militares envolvidos em uma ação que terminou com a morte de quatro pessoas em Cavalcante, no nordeste de Goiás, segundo informou o Ministério Público de Goiás (MP-GO). Na época, a Polícia Militar informou que as vítimas eram suspeitas de tráfico de drogas. Já a Polícia Civil apontou que os quatro não tinham passagens criminais.
O g1 pediu um posicionamento para a Polícia Militar, por mensagens e e-mail enviado às 20h06 de sexta-feira (25), e aguarda retorno desde a última atualização. A reportagem não conseguiu contato com as defesas dos policiais que tiveram prisão preventiva decretada, são eles:
sargento Aguimar Prado de Morais;
sargento Mivaldo José Toledo;
cabo Jean Roberto Carneiro dos Santos;
soldado Welborney Kristiano Lopes dos Santos;
cabo Luís César Mascarenhas Rodrigues;
soldado Eustáquio Henrique do Nascimento;
e soldado Ítallo Vinícius Rodrigues de Almeida.
Propriedade onde ação da PM com quatro mortos aconteceu, em Cavalcante, Goiás — Foto: Polícia Civil/Divulgação
Propriedade onde ação da PM com quatro mortos aconteceu, em Cavalcante, Goiás — Foto: Polícia Civil/Divulgação
O crime aconteceu no dia 20 de janeiro deste ano. Na data, a PM informou à Polícia Civil uma equipe foi a uma propriedade rural, em local ermo e de difícil acesso, após receber uma denúncia de que ali haveria uma grande plantação de maconha. No registro, os PMs relataram que, chegando ao local, foram recebidos a tiros por um grupo e, por isso, tiveram que revidar com quase 60 tiros.
Ainda de acordo com o depoimento dos policiais militares, além dos quatro que foram baleados e morreram, haveriam outras três pessoas, que conseguiram fugir.
A população de Cavalcante ficou revoltada com o episódio e defende que os quatro rapazes que foram mortos não tinham armas e não podem ter atirado contra os PMs. Durante o enterro de dois deles, houve uma manifestação pedindo por justiça.
Pés de maconha apresentados pela polícia após ação com quatro mortos em Cavalcante, Goiás — Foto: Polícia Civil/Divulgação
Pés de maconha apresentados pela polícia após ação com quatro mortos em Cavalcante, Goiás — Foto: Polícia Civil/Divulgação
Drogas e investigação
Dias após o crime, o delegado Alex Rodrigues disse que os PMs disseram que constataram que havia cerca de 500 pés de maconha no local, além de porções prensadas e outras prontas para consumo. No entanto, parte da droga que foi incinerada no local antes da chegada da equipe da Polícia Civil. Essa ação não é a de praxe, segundo o delegado.
“A priori, quem faz a incineração da droga, de cordo com a lei, é o delegado. A droga foi incinerada antes da minha chegada. Isso vai ser apurado o motivo”, disse o delegado, na época do crime.
O Ministério Público informou, nesta sexta-feira, que o inquérito policial está em fase final de conclusão pela Delegacia de Investigação de Homicídios, em Goiânia. O MP disse ainda que, na área onde ocorreu a ação, que tem quatro metros quadrados, foram encontradas 11 espécies de plantas, das quais quatro eram de maconha.
Salviano Souza da Conceição: tinha de 63 anos, morava na chácara invadida pela polícia, era trabalhador rural e guia turístico;
Ozanir Batista da Silva: tinha 47 anos, conhecido como jacaré, era trabalhador rural, mas estava desempregado. Ele estava no local para ajudar na colheita de uma lavoura de milho, segundo a família;
Antônio da Cunha Fernandes: tinha 35 anos, conhecido como Chico Kalunga e era quilombola Kalunga, natural da Comunidade da Barra de Monte Alegre. Era trabalhador rural e também estava desempregado.
Alan Pereira Soares: tinha 27 anos, já trabalhou formalmente como entregador e auxiliar de máquina industrial, mas estava desempregado e passou a sobreviver de trabalhos informais como capina de terrenos. Ele deixou uma filha de seis meses e uma companheira grávida de três meses.
Pedidos de prisão preventiva
O MP-GO fez os pedidos de prisão preventiva dos policiais militares afirmando que as medidas cautelares não são suficientes para resguardar a ordem pública nem garantir a normal instrução criminal no caso.
De acordo com o Ministério Público, a narrativa dos fatos apresentada pelos policiais militares no registro da ocorrência "não encontra amparo nas provas documentais, periciais e testemunhais que estão no inquérito policial".
Ainda no pedido, o MP ressaltou que alguns dos militares envolvidos no crime procuraram algumas testemunhas do crime com o objetivo de intimidá-las e ameaçá-las. Conforme o órgão, isso só reforça a necessidade de que os suspeitos do crime fiquem presos de forma preventiva.